Produtividade – essa foi a palavra-chave ontem, na abertura do Minds + Machines, conferência anual sobre desenvovimento tecnológico da GE, realizada em São Francisco (EUA). O setor industrial tem à sua frente uma chance valiosa de dar um salto de produtividade, usando a internet para ganhar tempo, prever falhas, poupar energia, identificar mudanças etc. Mas atenção: não estamos falando da internet que se usa no dia a dia, tampouco a internet das coisas, que remete à ideia de eletrodomésticos conectados. Trata-se, digamos assim, da internet das coisas aplicada na indústria. A internet industrial.
E ela não é um conceito, mas uma realidade, afirma Jeff Immelt, CEO da GE. “Nós acreditamos nessa nova onda de produtividade e queremos estar na liderança desse processo”, disse o CEO, que anunciou no evento como a empresa está envolvida na criação da infraestrutura necessária para que essa revolução ocorra.
Uma das medidas mais importantes, que acaba de ser disponibilizada, é o Predix. Trata-se do primeiro e único sistema operacional em nuvem desenvolvido exclusivamente para o setor industrial. A plataforma reúne aplicativos que permitem levar a informação necessária às pessoas certas na hora exata, ou seja, ajuda a transformar dados em insights e ações. Um exemplo: imagine um app que, a partir de dados meteorológicos em tempo real, informe o melhor horário para obras de manutenção em um parque eólico, fazendo com que o serviço afete o mínimo possível a geração de energia. Resultado: otimização dos recursos.
Ao longo da tarde, representantes de empresas como P&G, Exelon Generation e BNSF Railway apresentaram suas necessidades e expectativas em relação à internet industrial e, mais especificamente, em relação às soluções da GE, como o Predix. “As pessoas não pensam em ferrovias como algo hightech, mas a tecnologia está presente em grande parte do que fazemos, a ‘big data’ é muito importante para nós. Sempre tivemos uma quantidade enorme de dados. Agora, estamos aptos a armazenar, consumir, manipular e adicionar novas informações a esse acervo. Estou muito empolgada com a forma como Predix pode nos ajudar na logística dos trens, a ter mais eficiência”, disse Jo-Ann Olsovsky, vice presidente da BNSF Railway.
Assim como as pessoas não associam trens à alta tecnologia, também não costumam associar a GE a soluções digitais. A companhia até brinca com esse fato no vídeo que abriu o evento, em que vemos um jovem engenheiro contar, muito animado, que vai trabalhar com programação na GE, notícia que deixa seus amigos e familiares meio incrédulos.
Mas o fato é que a GE vem se dedicando a essa nova área há anos. A companhia espera ter uma receita de US$ 6 bilhões com softwares em 2015 e planeja chegar a US$ 20 bilhões até 2020. Além disso, tem feito parcerias com empresas como Cisco e AT&T, voltadas a soluções em rede e comunicação.
“Não considero a GE uma empresa de software ‘per se’, mas precisamos ter uma base de software para ser bem-sucedidos no futuro”, disse Jeff Immelt. “Vamos pegar todas as coisas que estamos fazendo dentro da nossa empresa, todas as ferramentas de produtividade, e transformá-las em aplicativos para nossos clientes.”
Até agora, os grandes benefícios da era da internet foram observados principalmente entre os consumidores, avalia Immelt. Enquanto isso, o setor industrial foi perdendo produtividade – uma queda de 1% entre 2011 e 2015. Mas, para o CEO da GE, isso está prestes a mudar, e no futuro a internet industrial pode chegar a valer o dobro da internet usada pelos consumidores. A expectativa é que 50 bilhões de máquinas se tornem online até 2020, o que terá forte impacto na economia. “Isso vai ocorrer com ou sem a participação das companhias”, afirmou Immelt. “Não há nenhuma razão pela qual uma indústria não queira participar e delegue essa tarefa para outros, em vez de conduzir ela mesma.”
O tema ganhou força em 2012, após a publicação de um artigo do economista-chefe Marco Annunziata, da GE, em que ele afirmava que a internet industrial poderia trazer um acréscimo de 10 a 15 trilhões de dólares no PIB mundial, num espaço de 15 anos. Isso seria possível reduzindo o risco de falhas, zerando downtime imprevisto (tempo em que um sistema fica inativo por um problema inesperado) e aumentando de 1% a 3% a eficiência dos recursos. “Quando olhamos para isso, vimos que era uma oportunidade tremenda”, lembrou Bill Ruh, Presidente & CEO da GE Digital, que falou à plateia logo após Immelt.
Para Ruh, três fatores são fundamentais para capturar essa oportunidade. Um deles é a criação de novos modelos de negócio. “Não basta ter os dados, ter os sensores, o importante é como transformar esses dados e sensores em algo que permita ganhar ou economizar dinheiro.” O segundo fator é ter uma plataforma em nuvem, que permita trabalhar com agilidade em grande escala – demanda que a GE pretende suprir com o Predix. O terceiro aspecto, ainda segundo Ruh, é a promoção da convergência da tecnologia da informação com a tecnologia operacional.
“Quando a gente pensa em como zerar downtime imprevisto, isso não soa muito sexy. Mas na verdade é a coisa mais sexy no mundo da tecnologia hoje”, brincou Ruh, citando alguns números. Prever uma falha numa plataforma de petróleo, por exemplo, equivale a uma economia de US$ 5,4 milhões. Tornar uma companhia energética mais eficiente pode levar ao ganho de US$ 1 milhão por mês. Adotar a internet industrial pode levar a um ganho de produtividade de 20% em uma fabrica de alimentos. “São números impressionantes. Isso é como mágica para o mundo”, disse Bill Ruh.
A GE também anunciou ontem a Digital Power Plant, que concilia software e hardware ao criar uma cópia virtual completa de uma usina energética. “O mundo vai demandar 50% mais energia ao longo dos próximos 20 anos”, disse Steve Bolze, CEO da GE Power & Water. “Para resolver isso, precisamos resolver como aliar hardware e software.”